Um possível aliado no tratamento da Hidradenite Supurativa

A hidradenite supurativa é uma condição crônica da pele que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Muitas vezes silenciosa e mal compreendida, ela é marcada por inflamações recorrentes, nódulos dolorosos e lesões que podem deixar cicatrizes permanentes. Não se trata apenas de um desconforto estético. Essa doença interfere diretamente na qualidade de vida, atinge a autoestima e compromete o bem-estar psicológico de quem a enfrenta.Nos últimos anos, diversas abordagens terapêuticas têm sido testadas para amenizar os sintomas e controlar sua progressão. Antibióticos, anti-inflamatórios, cirurgias e terapias a laser são opções já conhecidas. Mas agora surge uma alternativa inesperada: a semaglutida, princípio ativo presente em medicamentos como Ozempic e Wegovy.

O que é a hidradenite supurativa?

A hidradenite supurativa é uma doença inflamatória que compromete os folículos pilosos, principalmente em áreas como axilas, virilha, nádegas e abaixo dos seios.

Entre os sintomas mais comuns estão:

  1. Lesões avermelhadas e dolorosas
  2. Abscessos que podem drenar pus
  3. Fístulas (túneis sob a pele) em estágios avançados
  4. Cicatrizes permanentes

Pesquisas estimam que uma em cada 100 pessoas conviva com esse problema, muitas vezes sem diagnóstico adequado. Além da dor física, a doença gera altos índices de depressão e ansiedade, já que impõe limitações severas ao cotidiano.

A obesidade figura entre os principais fatores de risco. Ela potencializa a inflamação do organismo e agrava o quadro clínico. É justamente nesse ponto que a semaglutida se apresenta como uma possibilidade de intervenção.

Ozempic e Wegovy: o que são e como atuam?

Ozempic, aprovado em 2017 pela agência reguladora norte-americana FDA para o tratamento do diabetes tipo 2, e Wegovy, liberado em 2021 para o controle do peso, possuem a mesma substância ativa: a semaglutida.

Esse medicamento pertence ao grupo dos agonistas do receptor GLP-1, capazes de:

  1. Melhorar o controle da glicemia
  2. Reduzir a fome e aumentar a saciedade
  3. Contribuir para a perda de peso
  4. Diminuir marcadores de inflamação

Ainda que seu uso esteja centrado no combate ao diabetes e à obesidade, a comunidade científica vem investigando sua aplicação em outras condições de saúde, como dependência química, doenças cardiovasculares e agora a hidradenite supurativa.

O estudo: semaglutida contra hidradenite supurativa

Na mais recente edição da European Academy of Dermatology and Venereology Conference, em Amsterdã, pesquisadores apresentaram os resultados de uma investigação sobre a eficácia da semaglutida no controle da hidradenite supurativa.

Trinta pacientes obesos, em diferentes estágios da doença, receberam doses semanais do medicamento por aproximadamente oito meses. Os efeitos observados foram positivos:

  1. Perda média de seis quilos
  2. Melhora no controle glicêmico
  3. Redução da inflamação sistêmica
  4. Intervalo maior entre as crises

Antes do tratamento, os surtos ocorriam a cada oito semanas, em média. Após a introdução da semaglutida, passaram a ocorrer a cada doze semanas, representando um avanço significativo.

O pesquisador Daniel Lyons, do University Hospital St. Vincent, em Dublin, afirmou que mesmo em doses moderadas a semaglutida trouxe benefícios clínicos importantes. No entanto, destacou que estudos mais amplos ainda são necessários para confirmar a eficácia e avaliar a segurança em doses mais elevadas.

Por que a semaglutida pode ajudar?

Há pelo menos três razões que explicam o impacto positivo da semaglutida no tratamento da hidradenite supurativa:

  1. A redução de peso diminui a pressão e o atrito nas regiões afetadas e contribui para a queda da inflamação associada à obesidade.
  2. O controle glicêmico, que é melhorado pelo medicamento, combate uma das condições ligadas à HS: a resistência à insulina.
  3. O efeito anti-inflamatório auxilia a reduzir a frequência e a intensidade das crises.

Assim, a semaglutida não atua apenas pela perda de peso, mas em um conjunto de fatores que favorecem a melhora clínica dos pacientes.

Hidradenite supurativa: quais são os tratamentos disponíveis?

Ainda que a semaglutida surja como esperança, ela não faz parte do protocolo oficial de tratamento. Hoje, as alternativas mais utilizadas são:

  1. Mudanças no estilo de vida, como perda de peso, dieta adequada e abandono do tabagismo.
  2. Uso de antibióticos para combater infecções.
  3. Aplicação de medicamentos biológicos, como o adalimumabe, que atuam no sistema imunológico.
  4. Intervenções cirúrgicas em casos graves, removendo tecidos comprometidos.
  5. Procedimentos a laser para eliminar os folículos pilosos afetados.

A semaglutida aparece, portanto, como um complemento em fase de estudo, mas com potencial para alterar o modo como a doença é tratada.

Impacto na qualidade de vida

A hidradenite supurativa não se resume a um desafio médico. Ela limita atividades, compromete a vida social, afeta relacionamentos e repercute na autoestima. A dor e os constrangimentos criam barreiras invisíveis, mas profundas.

Nesse cenário, qualquer tratamento capaz de reduzir a frequência das crises e controlar a inflamação significa devolver ao paciente parte da normalidade perdida. A perspectiva de melhora, ainda que parcial, já transforma a forma como a doença é enfrentada.

O futuro da pesquisa

Ainda não se pode afirmar que Ozempic ou Wegovy farão parte oficialmente das terapias contra a hidradenite supurativa. No entanto, os dados apresentados até o momento indicam que medicamentos inicialmente voltados para diabetes e obesidade podem abrir novos caminhos no tratamento de doenças dermatológicas crônicas.

O próximo passo depende da realização de ensaios clínicos em larga escala, que avaliem de maneira mais detalhada segurança, eficácia e dosagens adequadas. Até que isso ocorra, a semaglutida deve ser vista como uma opção em investigação.

O essencial em poucas linhas

A semaglutida pode representar uma inovação importante no combate à hidradenite supurativa. Os resultados iniciais mostram menos crises, redução da inflamação e perda de peso em pacientes acompanhados durante meses. Ainda é cedo para chamá-la de solução definitiva, mas o horizonte se abre para novas possibilidades terapêuticas.

Mais do que uma tendência ligada à fama recente do Ozempic, trata-se de um avanço científico que pode devolver esperança e qualidade de vida a quem convive com uma das doenças de pele mais dolorosas e limitantes que se conhece.

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